quinta-feira, 20 de maio de 2010

Fazer Filme



Como dirigir o seu roteiro


Ângulos de câmera, cortes de cena e outras instruções técnicas quase certamente serão mudados completamente pelo diretor, câmera e editor, durante o longo processo de produção.
Mas quando sua indicação, no roteiro, é absolutamente indispensável? Afinal, estamos escrevendo roteiros de cinema, e às vezes precisamos - ou queremos - dirigir um pouco o nosso filme. Vamos discutir alguns dos elementos que se pode precisar com mais frequência:

Transições
São indicações sobre como cortar de uma cena para outra. A justificação é sempre à direita, com uma linha entre a última linha da cena anterior, e o cabeçalho da cena seguinte:

CORTA PARA:
É a transição standard, portanto um pouco supérflua - pelo menos na minha opinião.

FUSÃO PARA:
Para cortar lentamente de uma cena para outra.

MATCH CUT:
Quando cortamos, por exemplo, de uma aliança na vitrine de um joalheiro, para ela sendo colocado na mão de uma noiva na igreja.

Planos
Em inglês, camera shots. É quando pulamos fora da cena por um momento para ver uma coisa importante destacada. Na maioria dos planos, os termos técnicos são mantidos em inglês.
As primeiras duas, POV e INSERT, sempre terminam em VOLTA À CENA, ou então no cabeçalho novo da próxima cena.
POV
Ponto de vista (Point Of View). Você pode precisar mostrar o que uma personagem está vendo. Isto é feito assim:
O barulho de uma PORTA BATENDO embaixo alerta Guilherme. Ele vai até a porta.
POV DE GUILHERME
Através da porta entreaberta, ele vê policiais subindo a escada.
VOLTA À CENA
Guilherme tranca a porta, e rapidamente fecha o cofre.
(...)

INSERT
Uma rápida inserção de uma detalhe. Por exemplo:
INSERT - RODA DO CARRO
o último parafuso solta e cai na estrada.
VOLTA À CENA
(...)

CLOSE SHOT e CLOSEUP
São frequentemente confundidas.
CLOSE SHOT é um plano da cabeça e ombros de uma, ou até duas, personagens. CLOSEUP examina de perto o detalhe de uma personagem ou objeto. Por exemplo:
CLOSE SHOT - GUILHERME
que está suando, e ao mesmo tempo tentando manter uma impressão de calma.
(...)
e
CLOSEUP - AS MÃOS DE GUILHERME
amarradas atrás e trabalhando desesperadamente para se livrar das cordas.
(...)

MONTAGEM e SÉRIE DE PLANOS
Também costumam ser interpretadas como a mesma ação - embora não sejam. A diferença é que MONTAGEM incorpora muito mais informação na tela, simultaneamente. É usada para mostrar uma série de eventos como, por exemplo:

MONTAGEM
A) Manifestações estudantis na Cinelândia
B) A Passeata dos Cem Mil
C) Militares tomando o poder
(...)
Já SÉRIE DE PLANOS são mini-cenas compondo uma sequência:

SÉRIE DE PLANOS
A) Guilherme pula do carro.
B) Ele cai por um barranco.
C) O carro perde controle, batendo numa árvore e EXPLODINDO.
D) Guilherme levanta devagar, apoiando-se numa rocha e olhando a fumaça subindo do carro em chamas.
(...)

Instruções para câmera
Às vezes pode ser muito importante indicar como a câmera deve agir. Lembro de uma cena num programa de comédia inglesa, anos atrás, que serve como excelente exemplo. Dois amigos estavam conversando através de uma grade. Um deles usava uniforme, camisa azul, o outro, de casaco, aparentemente vindo da rua. Ele trazia um bolo e notícias sobre vários amigos e membros da família do outro. Pelo contexto, e comentários como "eu não aguënto mais ficar aqui", imaginamos que se tratava de um prisioneiro recebendo uma visita de um amigo. Mas no final da cena, de repente, alguém atrás do amigo reclamou, em off, "ei, vai ficar aí o dia inteiro?!" A câmera abriu para revelar uma imensa fila numa agência de correios.
Neste caso instruções para câmera seríam fundamentais para a narrativa. São feitas em maiúsculos. O final da cena seria escrita assim:

HOMEM (O.S.)
Ei, vai ficar aí o dia inteiro?!.
O Amigo se vira, enquanto o ÂNGULO ABRE PARA REVELAR uma imensa fila de pessoas, a maioria carregando cartas e embrulhos, e todos olhando impacientemente. A decoração da sala e os posters nas paredes mostram que se trata de uma agência de correios.
(...)
Outras instruções para câmera podem incluir, CÂMERA SEGUE,AJUSTEZOOMENCONTRA, etc.
INTERCUT e Diálogo simultâneo
Duas outras técnicas de que se pode precisar bastante surgem quando precisa cortar entre duas cenas ou planos, ou quando duas personagens falam simultaneamente.
Para cortar, por exemplo, entre duas pessoas falando no telefone, se usa INTERCUT - antes ou depois da segunda fala - assim:
Roberto atende.

ROBERTO
Alô?
INTERCUT CONVERSA TELEFÔNICA

MÁRCIA
Oi, amor, sou eu.
(...)
É claro que INTERCUT pode ser usado em outras situações também.

Diálogo simultâneo funciona assim:
BRUNOGERALDA
O que é que você está fazendo aqui?!Porque você não está em casa?!
(...)

Uma palavra final
Como já mencionei, as polêmicas e argumentos sobre formatação que surgem nos Estados Unidos são intermináveis. Estas regras apresentadas aqui não pretendem ser definitivas, e muito menos a única verdade - que não existe.
Escritores sempre vão ter suas preferências e pequenas variações particulares.
O que pretendo fazer aqui é mostrar como escrever o seu roteiro para que ele seja imediatamente reconhecível como roteiro.
Que, sendo um roteiro de cinema, seja escrito e lido na maneira mais visual possível.

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